terça-feira, 25 de agosto de 2009

Diplomas

Quando passei do CA [= Classe de Alfabetização] para a primeira série do fundamental, tive festinha tipo formatura, com direito a diplominha e tudo! Eu, toda orgulhosa de mim, fui correndo mostrar o diploma pra minha mãe, pra receber os cumprimentos e admiração dela. Pois qual não foi minha surpresa ao ouvir a seguinte frase: “Minha filha, mamãe está muito orgulhosa de você, mas não é esse diploma que a mamãe quer... é o da faculdade!”

Nem precisa dizer que murchei na hora, né? Mais que péssima ideia falar isso pra uma criança de cinco anos! Eu, pequenina e serelepe, nos meus poucos anos de vida, nem sabia quanto tempo faltava pra eu ir pra faculdade. Lembro-me de pensar “Poxa, mas eu nunca vou chegar lá, falta muito!” Realmente, faltavam 17 ANOS pra eu me formar, no mínimo! Não te pareceria impossível de chegar?

Mas, como adorava a escola, um dia esqueci aquela história e me formei novamente, da quarta pra quinta série do fundamental. Início daquela fase em que sai a querida Tia e entra os Srs professores. Quando ganhei meu segundo diplominha e fui mostrar pra minha mãe, ouvi tudo de novo: “Minha filha, estou muito orgulhosa de você, mas não é esse diploma que eu quero... é o da faculdade!” - Pronto, murchei! Que estraga prazeres! Não custava guardar aquela informação só pra ela? Ainda faltava muito tempo... pra que insistir nisso? Pois essa frase eu também ouvi na oitava série. ¬¬

Até o dia que entrei no ensino médio. Aaaaaahhhh, o ensino médio! Que alegria foi cursá-lo... sempre fui boa aluna, embora conversasse bastante. Nunca fui arteira, mas certa vez joguei um amendoim no professor [fase rebelde sem casca!] e fiz guerra de coquinho no jardim da escola e taquei uns no carro da diretora, mas este foi sem querer. O último ano da escola foi assustador, pois eu estava saindo do “colégio”, sendo jogada num penhasco, sozinha [era assim que eu me sentia], só dependendo do vestibular para continuar viva. E morrendo de medo de não passar e ter que pagar faculdade.

Aliás, agora você deve estar se perguntando o motivo de tanto medo de pagar faculdade... Espia o drama: meu pai é formado em universidade federal. Minha mãe, federal também. Conclusão: eu me sentia na obrigação de passar na federal [ou numa estadual, mas não teria a mesma graça] simplesmente por uma questão familiar... Não rolava uma pressão explícia, mas eu sentia o peso da responsabilidade nas costas. Nem preciso dizer que quase fiquei louca, até ver que tinha passado! [em outro post conto como foi essa via crucis entre o resultado do vestibular e o início das aulas da faculdade, tá?] É como se todos os membros de sua família tivessem ganhado um torneio estadual de natação e você, nadador, participasse de uma competição dessas.Você não ia se sentir pressionado?

Continuando no meu terceiro ano: um dia chegou a formatura. Recebi o canudo, mostrei pra minha mãe e ouvi um “agora falta o da faculdade!”... e não murchei pelas palavras, mas pelo medo de não entregar esse papelzinho que me atormentava, medo de não vencer o vestibular. Tive vestíbulo-esclerose, vestibanemia, vestibulite, vestibulose, vestíbulo-celulite e muitas outras doenças bio-psico-sociais desencadeadas pelo vestibular! :P

Enlouqueci, mas passei. E vivi alguns dos anos mais felizes da minha vida... e, 17 anos depois do primeiro diploma e 4 anos e meio após o último, pude ver aquela carinha que eu queria tanto ver no CA: minha mãe babando!!!!! Adorei ver a animação dela e senti orgulho de mim. Pude ver a importância de ouvir aquela frase formatura após formatura, me motivando a chegar na faculdade, para ir além do que podia ver... mas que um dia ia chegar. Ela tinha razão em me cobrar, ainda que precocemente. Sem estímulo eu talvez nada seria e ela me deu um propósito.

Porém, numa bela noite sentada na Urca, admirando a enseada de Botafogo, escuto a seguinte pergunta de um ex: “Quais são os seus sonhos?” Foi aí que me dei conta que passei 22 anos sonhando com a faculdade, que tinha acabado, e me senti sem rumo. Fiquei indecisa, insegura, assustada. Vi que, depois da formatura, já não sentia a mesma empolgação de antes. Eu não tinha que fazer mestrado e doutorado pela minha mãe [embora ela me cobrasse e ainda cobre. rs], mas sim por outras questões; pelas minhas questões. E isso me deixou muito perdida naquela época.

Hoje, depois de um ano de formada e cursando pós-graduação, vi que realmente ela tinha razão em me cobrar o diploma da faculdade todos esses anos. Mas eu achava que era o final do final, quando, na verdade, era o início de outro ciclo de estudos. Início de novos diplomas.

2 comentários:

Mônica Augusto disse...

Ah....este é mesmo o começo de tudo...o começo de um bom futuro!
Existem pessoas que com a sua idade estão começando a desconfiar que a vida não é fácil....e você, na mesma faixa etária e fazendo as mesmas descobertas, já está dotada de meios para vencer as incertezas da existência.
E cá entre nós...nem foi um trauma, filha...
Pois todo mundo sabe que pisada de galinha não mata pinto, né? ;)

Unknown disse...

É prima, o tempo passa rapido neeh?!
Vc criou uma meta, que era passar na faculdade, ai quando passou...nao tinha mais objetivos...Enfim amostrou o famoso diploma que sua mae queria tanto ver, mais nao tinha mais o que fazer neh?!

As vezes precisamos de uma palavra de incentivo para nos proporcionar confiança nos nossos sonhos! Contudo essa palavra muita das vezes nao vem e precisamos ser "guerreiros" e superar qualquer desafio, para alcançar o que queremos.


Um pouco tarde rs , pois ja faz tempo q vc se formou neh...mais contudo parabens...Voce achou um novo rumo a seguir após o termino da facu...XD

Beijo...